CARTA PUBLICADA NO ESTADÃO...

quinta-feira, 5 de novembro de 2009
Carta-resposta de um Juiz ao Presidente Lula publicada no Estadão.Veja a carta que um juiz colocou no jornal de hoje:Carta do Juiz Ruy Coppola (2º TAC) .Mensagem ao presidente!Estimado presidente, assisti na televisão, anteontem, o trecho de seudiscurso criticando o Poder Judiciário e dizendo que V. Exa. e seuamigo Tarso, ministro da Justiça, há muito tempo são favoráveis aocontrole externo do Poder Judiciário, não para 'meter a mão na decisãodo juiz', mas para abrir a 'caixa-preta' do Poder... Vi também V.Exa. falar sobre 'duas Justiças' e sobre a influência do dinheiro nasdecisões da Justiça.Fiquei abismado, caro presidente, não com a falta de conhecimento deV.Exa., já que coisa diversa não poderia esperar (só pelo fato de queo nobre presidente é leigo), mas com o fato de que o nobre presidenteainda não se tenha dado conta de que não é mais candidato.Não precisa mais falar como se em palanque estivesse; não precisa maisfazer cara de inconformado, alterando o tom da voz para influir noânimo da platéia. Afinal, não é sempre que se faz discurso na porta daVolks.Não precisa mais chorar. O eminente presidente precisa apenas mandar,o que não fez até agora.Não existem duas Justiças, como V. Exa. falou. Existe uma só.Que é cega, mas não é surda e costuma escutar as besteiras que muitosfalam sobre ela.Basta ao presidente mandar seu amigo Tarso tomar medidas concretas eefetivas contra o crime organizado.Mandar seus demais ministros exercer os cargos para os quais foram nomeados.Mandar seus líderes partidários fazer menos conchavos e começar alegislar em favor da sociedade.Afinal, V. Exa. foi eleito para isso.Sr. presidente, no mesmo canal de televisão, assisti a uma reportagemdando conta de que,em Pernambuco (sua terra natal), crianças que haviam abandonado olixão, por receberem R$ 25,00 do Bolsa-Escola , tinham voltado paraaquela vida (??) insólita simplesmente porque desde janeiro seugoverno não repassou o dinheiro destinado ao Bolsa-Escola . Como se pode ver, Sr. presidente, vou tentar lembrá-lo de algumascoisas simples. Nós, do Poder Judiciário, não temos caixa-preta. Temosleis inconsistentes e brandas (que seu amigo Tarso sempre utilizoupara inocentar pessoas acusadas de crimes do colarinho-branco).Temos de conviver com a Fazenda Pública (e o Sr. presidente éresponsável por ela, caso não saiba), sendo nossa maior cliente elitigante, na maioria dos casos, de má-fé.Temos os precatórios que não são pagos.Temos acidentados que não recebem benefícios em dia (o INSS é de suaresponsabilidade, Sr. presidente). Não temos medo algum de qualquercontrole externo, Sr. presidente.Temos medo, sim, de que pessoas menos avisadas, como V. Exa. mostrouser, confundam controle externo com atividade jurisdicional (pergunteao seu amigo Tarso, ele explica o que é).De qualquer forma, não é bom falar de corda em casa de enforcado.Evidente que V. Exa. usou da expressão 'caixa-preta' não no sentidopejorativo do termo.Juízes não tomam vinho de R$ 4 mil a garrafa.Juízes não são agradados com vinhos portugueses raros quando vão arestaurantes.Juízes, quando fazem churrasco, não mandam vir churrasqueiro de outro Estado.Mulheres de juízes não possuem condições financeiras para importarcabeleireiros de outras unidades da Federação, apenas para fazer uma'escova'. Cachorros de juízes não andam de carro oficial.Caixa-preta por caixa-preta (no sentido meramente figurativo), sr.presidente, a do Poder Executivo é bem maior do que a nossa.Meus respeitos a V. Exa. e recomendações ao seu amigo Márcio.
P.S.: Dê lembranças a 'Michelle'.(Michelle é cachorrinha do presidente que passeia em carro oficial)Ruy Coppola, juiz do 2.º Tribunal de Alçada Civil do Estado de SãoPaulo, São Paulo

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