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quinta-feira, 1 de outubro de 2009
Poesia Matemática
Às folhas tantas do livro matemático um Quociente apaixonou-se um dia doidamente por uma Incógnita.Olhou-a com seu olhar inumerável e viu-a do ápice à base uma figura ímpar;olhos rombóides, boca trapezóide, corpo retangular, seios esferóides.Fez de sua uma vida paralela à dela até que se encontraram no infinito."Quem és tu?", indagou ele em ânsia radical."Sou a soma do quadrado dos catetos.Mas pode me chamar de Hipotenusa."E de falarem descobriram que eram(o que em aritmética correspondea almas irmãs)primos entre si.E assim se amaram ao quadrado da velocidade da luz numa sexta potenciação traçando ao sabor do momento e da paixão retas, curvas, círculos e linhas sinoidais nos jardins da quarta dimensão.Escandalizaram os ortodoxos das fórmulas euclidiana e os exegetas do Universo Finito.Romperam convenções newtonianas e pitagóricas. E enfim resolveram se casar constituir um lar, mais que um lar, um perpendicular.Convidaram para padrinhoso Poliedro e a Bissetriz.E fizeram planos, equações e diagramas para o futuro sonhando com uma felicidade integral e diferencial. E se casaram e tiveram uma secante e três cones muito engraçadinhos.E foram felizes até aquele dia em que tudo vira afinal monotonia.Foi então que surgiu O Máximo Divisor Comum freqüentador de círculos concêntricos,viciosos. Ofereceu-lhe, a ela,uma grandeza absoluta e reduziu-a a um denominador comum.Ele, Quociente, percebeu que com ela não formava mais um todo,uma unidade. Era o triângulo, tanto chamado amoroso.Desse problema ela era uma fração, a mais ordinária. Mas foi então que Einstein descobriu a Relatividade e tudo que era espúrio passou a ser moralidade como aliás em qualquer sociedade.
(Millôr Fernandes)

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